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samedi, novembre 18, 2006

Adormecida (Pois é, alguém tem de morrer)




(Inspirado nas obras e homenagens à Frida Khalo)

Ela parou em meio ao tudo e perguntou a si se tudo aquilo tinha sentido. Se tudo aquilo ainda era real. O que era vida e o que era alucinação. As vozes ecoavam pelos seus tímpanos, cortava-os e os ônibus a passar naquela tarde escaldante de verão.
Será que aquilo tudo tinha sentido para ela? Porque os ônibus estavam meio vazios e não meio cheios? Onde tudo isso iria terminar?
Mais um gole de vinho, mais um aperto no tabaco... Era inútil para esse ser. Nem a morte, mas nem essa representava vida. Tudo se fôra para ela. O parque, os patos, o lago. Será que cruzaria o lago? Sim, porque temia as turvas águas. Conseguiria mergulhar profundamente em si mesma? Seria como cortar sua identidade, pisar em suas feridas, arrancar seus cabelos na ferrugem da tesoura, a tesoura que rasgaria seu amanhã... Não se teria mais noite. Pausa para um tango, outro trago, mais um gole, mais um ônibus, mais um degrau a menos.
Quem era ela? Pois não escolhera a morte! Entretanto, em tarde quente de verão o corpo voa, desolidifica, desloca-se de seu eu verdadeiro e voa em meio a patos marrecos. E os ônibus? Bem, esses estão vazios porque assim como a vida do ser humano, é provido de nada, de ar movido à gasolina, a sangue, o combustível humano. Porém se pára em um ponto e não cruza o lago. Ela morreria afogada e estilhaçada pela ferrugem dos dias, dos anos entre a indiferença e o medo com suas tesouras pontiagudas?
“Encha o copo! A garrafa secou.” Agora se come o fumo. No entanto de quê adianta relutar se o calor se põe assim como o sol e voltar a ser uma em meio à noite? Noite é hora fria, hora escura e cheia de mistérios, é à noite que tudo se torna estático, um só. A noite tem sua identidade e é por si mesma o equilíbrio de um ser. È nesse período que as plantas dormem de olhos semi-abertos, pois um deles deseja, chama a planta ao lado e já o outro receia o amanhã por vir, reprimi-se.
As tesouras voltam às gavetas do comodismo. A vida se expande e se torna gélida. Já é possível cruzar o lago. Sem patos, ou marrecos; congelado. Agora a lua assombra seu corpo nu. È hora de o palhaço despir sua face. É hora de tudo tornar-se elétrico. È necessário o nascer da próxima bola de sangue.



“O silêncio da solidão é a ilusão dolorosa para quem brinca de viver”
Wil Gomes.